Eai, pronto para continuar nosso estudo sobre a origem do Novo Testamento? Ou você ainda prefere continuar acreditando nos “achismos” absurdos que você comenta por aqui? Achando que a montagem dos manuscritos bíblicos foi feita de qualquer jeito por uma religião? Nessa nova série vamos falar sobre papiros, pergaminhos, lecionários e códices, para então, entrarmos no tema das traduções Bíblicas.

Para essa série, precisamos ter em mente como os manuscritos foram registrados. Qual foi o material? A letra? A escrita? Para isso, os próximos quatro vídeos utilizarei a divisão que muitos historiadores adotam para explicar os manuscritos bíblicos. São eles o Papiro, Unciais, Minúsculos e Lecionários. Hoje, falarei do papiro.

[AH THIAGO, EU SEI O QUE UM PAPIRO É, É UM PAPEL ANTIGO]

Não é só isso que se trata um manuscrito em papiro, até porque, o papiro não é um papel, longe disso, há algumas formas de confeccioná-lo e dependendo de como ele foi feito, ele não seria um papiro, mas um pergaminho. Contudo, sim, ele parece um papel grosso, mas é feito a partir do caule de juncos, aquelas plantas que cresciam às margens dos rios, principalmente no Egito.

Os manuscritos escritos neste material são considerados as primeiras testemunhas do texto original do Novo Testamento, e até o momento contamos com 141 papiros conhecidos e 136 já catalogados pelo “Centro de Estudo dos manuscritos do Novo Testamento” de Daniel Wallace.

Veja, NÃO são 141 folhas de papiro, são 141 manuscritos de textos completos ou fragmentados de muitos textos bíblicos. Ou seja, 1 papiro pode conter até 86 folhas, como o manuscrito conhecido como P46 datado de 200 d.C. em que contém a maioria das cartas de Paulo e Hebreus.

Essa sigla “P” acompanhada por um número, que vai do P1 ao P141 foi criada em 1908 por Caspar René Gregory, um especialista em crítica textual do novo testamento. O “P” significa papiro e o número se refere a ordem em que este papiro foi registrado. Vale lembrar que Gregory teve seu método de classificação continuada por outro homem chamado Kurt Aland, criando assim o sistema Gregory-Aland de classificação dos manuscritos.

Quando falamos de papiros do Novo Testamento, alguns nomes importantes surgem, como por exemplo, Bernard Pyne Grendfell e seu amigo Arthur Surridge Hunt que em 1920 no deserto do médio Egito, encontraram o fragmento de papiro mais antigo do Novo Testamento, datado em 125 d.C.. Na parte da frente deste papiro é possível ler os versículos 31 à 33 do evangelho de João e no verso os versículos 37 e 38. Esse documento, conhecido como P52, está exposto na Biblioteca de John Rylands no Reino Unido. Você também pode conhece-lo através do site do Centro de Pesquisa do Daniel Wallace: www.csntm.org

Esse achado arqueológico é de longe o maior e mais importante para a manuscritologia bíblica, pois foi neste sitio arqueológico em Oxirrinco no Egito que esses dois egiptólogos ingleses encontraram, num depósito de lixo, o maior número de pergaminhos antigos datados entre o século 3 a.C. e 640 d.C.

Além dos documentos cristãos, foram encontrados também documentos seculares como um tratado da Constituição dos Atenienses atribuído a Aristóteles. E também outros fragmentos de obras atribuídas a Platão, como a República e o diálogo de Górgias. No que importa para nós cristãos é que dos 141 papiros já conhecidos e catalogados até hoje, 53 deles foram encontrados nesse sitio arqueológico de Oxirrinco no Egito. Ou seja, esse achado corresponde a 37% dos papiros existentes hoje.

[E VOCÊ QUE É CÉTICO, PRESTE ATENÇÃO, SE VOCÊ CONSIDERA AS OBRAS DE ARISTÓTELES E DE PLATÃO VERDADEIRAS, SERIA DESONESTIDADE SUA NÃO CONSIDERAR OS TEXTOS BÍBLICOS ENCONTRADOS LÁ VERDADEIROS TAMBÉM]

Outro nome importante nessa área foi Martin Bodmer, um milionário colecionador suíço apaixonado por livros raros. Bodmer acumulou 150 mil grandes obras literárias em mais de 80 idiomas. Entre os anos 50 e 60 Bodmer negociou alguns papiros no Egito e entre eles acabou adquirindo o que se conhece como P66, datado de 200 d.C. que contém quase todo o evangelho de João. Ele também adquiriu o P75 que contém uma grande parte do evangelho de Lucas. Esse papiro, desde 2007 se tornou propriedade da Biblioteca do Vaticano após uma negociação milionária.

Por último, mas não menos importante, há também os manuscritos de Chester Beatty, um magnata americano da mineração que em 1931 também negociou com alguns egípcios alguns manuscritos e acabou adicionando a sua biblioteca 3 grandes papiros do Novo Testamento, o P45, P46 e P47. Sem falar nos outros 11 manuscritos que continham livros do Antigo Testamento.

Consegue perceber que mesmo sem entrar nos grandes códices já temos materiais extremamente importante para a crítica textual e para a manuscritologia bíblica? Portanto, não pense você que o Novo Testamento foi montado de qualquer jeito por qualquer um, estamos falando de mais de 2000 anos de investigação que comprovam que o Novo Testamento que temos hoje é fiel aos autógrafos. Portanto, pode chorar, pode espernear, mas jamais conseguirá provar que isso é uma mentira.

No próximo post vamos falar sobre as listas unciais, não perca!

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