Diferente do Uncial, este estilo agilizava o processo de cópia e também economizava espaço.

A crítica textual é extremamente relevante para provar que as mais de 5700 cópias dos manuscritos gregos contêm, de fato, o mesmo conteúdo escrito pelos autores do Novo Testamento. Além disso, se consideramos os textos em outros idiomas como siríaco, eslavo, gótico, etíope, copta e armênio o número de manuscritos antigos aumentaria para mais de 25 mil cópias antigas.

AH THIAGO, EU NÃO ACREDITO NO QUE ESTÁ ESCRITO NO NOVO TESTAMENTO

Tudo bem, não estou falando de fé por enquanto, estou falando de autenticidade destes documentos, que por sinal, é tão autentico quanto obras de Aristóteles e Platão, por exemplo.

Mas em se tratando da língua grega, já falei dos 141 registros do Testamento em papiro e 322 em pergaminhos unciais. Hoje, falarei dos manuscritos minúsculos.

Como o próprio nome já diz, estes manuscritos tem um estilo de escrita oposto ao que falamos no último vídeo, os unciais. Lembra? Uncial se referia a forma de escrita adotada pelos escribas até o século 9 d.C. Eram escritos em legras grandes, maiúsculas e arredondadas, sem espaçamento e com muitas abreviações contrações.

Logo, os manuscritos minúsculos surgem após o período dos unciais, ou seja, nono ou décimo século d.C. A ideia dos escribas era, além de economizar espaços nos pergaminhos, também agilizar o processo de cópia dos textos. Para isso, eles adotam este estilo de escrita menor, mais sofisticado e com letras cursivas.

Existe atualmente um número expressivo de copias desses manuscritos minúsculos, para ser mais exato, são 2911 cópias preservadas, segundo Dr. Stanley Porter, especialista em estudos do Novo Testamento, gramática e linguística do grego koiné da universidade de Sheffield no Reino Unido.

É interessante que muitos destes manuscritos minúsculos apresentam comentários e anotações dos copistas em suas margens, ou seja, informações que não estariam presentes nos documentos escritos pelos próprios autores do Novo Testamento;

TÁ VENDO THIAGO, ADULTERAÇÕES

Sim, para muitos, essas anotações e comentários dos copistas são considerados como adulterações e por esse motivo essa categoria de manuscritos minúsculos passaria a não ter mais um valor critico, servindo, assim, apenas como testemunhas da história medieval do texto do Novo Testamento.

Mas será que é para tanto? NÃO, de forma alguma. Precisamos sempre lembrar que já existiam os manuscritos em papiros e os unciais, ou seja, ao comparar os minúsculos com as essas outras duas categorias, já é possível traçar um paralelo entre elas, determinando, assim, o que é ou não uma variação do texto.

Tenho dito em todos os vídeos sobre o tema de manuscritologia que a variação textual não é um segredo para ninguém e que isso só acontece pelo fato de se ter muitas cópias do mesmo texto. Portanto, adotem um bom aparato crítico e aprenda mais sobre as variações antes de ficar de mimimi nas redes sociais

Ainda sobre os minúsculos, dos 2911 manuscritos catalogados dessa categoria, apenas 8 contém o Novo Testamento completo. Alguns possuem apenas os evangelhos, outros as cartas pastorais e outros as cartas paulinas. Enfim, a questão é que muitos dos minúsculos são tão parecidos entre si que os críticos textuais tentam a anos determinar quais deles pertencem à mesma família textual.

[FAMÍLIA TEXTUAL, O QUE É ISSO?]

É literalmente o agrupamento dos manuscritos que apresentem similaridades relevantes entre eles, indicando que eles foram copiados do mesmo documento antigo comum, que geralmente seria um manuscrito uncial. As famílias textuais mais famosas são: Família 1 e Família 13.

Esse nome “família” acompanhado de um número se dá por conta do manuscrito minúsculo de menor numeração dentro do grupo. Por exemplo, Kirsopp Lake, um estudioso do Novo Testamento e historiador da igreja e professor de Harvard Divinity School, descobriu em 1902 a existência de uma família textual, contendo inicialmente quatro manuscritos minúsculos, o minúsculo 1, 118, 131 e 209. Logo, essa família ficou conhecida como Família 1, pois o minúsculo 1 é o de menor numeração.

Outra família de minúsculos é a Família 13 também conhecido como grupo Ferrar, datado dos séculos 11 ao 15 e descoberto por William Hugh Ferrar em 1877. Neste grupo os manuscritos minúsculos iniciais são 13, 69, 124 e 346.

Já em relação a classificação dos manuscritos minúsculos, eles são bem complexos. Mas de novo, Gregory e Aland aparecem e simplificaram essa catalogação utilizando apenas números, ou seja, atualmente se tem catalogado 2911 códices minúsculos.

Eu gostaria de finalizar este vídeo falando do minúsculo 1, que atualmente está guardado na biblioteca da universidade de Basileia na Suíça. Este é um manuscrito minúsculo que contém todo o Novo Testamento, exceto o livro de Apocalipse. Este documento foi utilizado, em partes, por Erasmo de Roterdã durante a confecção da primeira Bíblia impressa em 1516. Essa versão grega e latina de Erasmo ficou conhecida como o Textus Receptus, utilizada em seguida por diversos tradutores famosos, como Lutero, Rei James e até João Ferreira de Almeida.

Matemática básica, 141 papiros mais 322 unciais mais 2911 minúsculos, totalizam 3374 manuscritos do Novo Testamento. Poderíamos parar aqui, mas ainda há a última categoria chamada de lecionário, falaremos mais dele no próximo vídeo.

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